Vladimir Maiakóvski/ Владимир Маяковский

 


“Tomar parte ou não tomar parte, para mim nunca foi uma questão”, escreveu o poeta Vladimir Maiakovski (1893-1930) ao se referir à Revolução Russa, que chamou de sua. Desde a mais tenra juventude, ainda na Geórgia, que à época era possessão do Império Russo, Maiakovski havia tomado parte na primeira revolução ocorrida por lá, em 1905. Política e poesia, desde sempre, se alternaram em sua vida. Foi na prisão, aos 16 anos, que Maiakovski teve a chance de ler, com profundidade, clássicos da poesia russa como Nikolai Nekrássov (1821-1878), autor de uma poética participante e engajada. 

Neste poema que traduzimos  até então inédito em português, reflete a adesão de Maiakovski pelas ideias de Lenin expostas no livro A vitória dos cadetes e a tarefa do partido dos trabalhadores (1905-1906). Os cadetes aqui referidos não são oficiais do Exército, mas os liberais integrantes do Partido Constitucional Democrata, fundado em 1905, que passaram a ser chamados assim devido à abreviatura, em russo, da sigla de sua agremiação partidária: K-D (Konstitutsionno-demokraticheskaya partiya). Os kadetes desempenharam um papel importante na Revolução de 1905 e pretendiam uma reforma no sistema e uma monarquia constitucional parlamentarista, nos moldes da Grã-Bretanha. 

Em seu livro, Lenin referiu-se aos cadetes como  “vermes da catatumba da revolução”. O poema de Maiakovski adota um tom ironicamente didático ao ser moldado como uma fábula para adultos. 



CONTO DE FADAS SOBRE O CHAPEUZINHO VERMELHO


Era uma vez, nesta terra, um cadete 

Ele usava um chapeuzinho vermelho.  


Além do chapeuzinho, posto no cadete,

não havia um só traço de vermelho nele. 

 

A revolução vem - escuta o cadete - 

e volta o chapeuzinho à cabeça dele. 


Assim, vivia bem uma geração de cadetes,

desde o bisavô até seus descendentes. 


Levantou-se um dia um vento forte e fez

em pedaços o chapeuzinho do cadete.


Ele ficou preto. E ao estar desse jeito,

os lobos da revolução fisgaram o cadete. 


A dieta dos lobos todos já conhecem.

E até com as mangas devoraram o cadete. 


Ao fazer política, crianças, se lembrem

do conto de fadas sobre este cadete. 


1917

СКАЗКА О КРАСНОЙ ШАПОЧКЕ


Жил был на свете кадет.

В красную шапочку кадет был одет.


Кроме этой шапочки, доставшейся кадету,

ни черта в нем красного не было и нету.


Услышит кадет — революция где-то,

шапочка сейчас же на голове кадета.


Жили припеваючи за кадетом кадет,

и отец кадета, и кадетов дед.


Поднялся однажды пребольшущий ветер,

в клочья шапчонку изорвал на кадете.


И остался он черный. А видевшие это

волки революции сцапали кадета.


Известно, какая у волков диета.

Вместе с манжетами сожрали кадета.


Когда будете делать политику, дети,

не забудьте сказочку об этом кадете.


 1917 г




Este poema foi publicado pela primeira vez em 30 de julho de 1917, no "Novaya jizn'" (“Nova vida”), primeiro jornal do Partido Operário Social-Democrata Russo, agremiação partidária que viria abrigar depois duas correntes, os bolcheviques e os mencheviques. 


***

Publicado na edição de 12 de novembro de 2022 do jornal A União

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