AGNIA BARTÔ /АГНИЯ БАРТО



Hoje é o aniversário de 118 anos de nascimento de Agnia Bartô.  Ao lado de Kornei Tchukóvski e Samil Marchak, é uma das maiores expressões da literatura infantil na Rússia. 

A poeta esteve em 1974, no Rio de Janeiro, quando participou como delegada do XIV Congresso do International Board on Books for Young People (IBBY). 

Em suas memórias, Bartô dedicou um capítulo inteiro à sua visita. “Desde o momento em que me apartei da terra moscovita, fiquei tentando imaginar como é que seria mesmo o Brasil? Li e ouvi tantas coisas contraditórias a respeito (...) Ainda não tinha avistado
o país, mas na minha cabeça voavam rimas com a palavra ‘Brasil’ (...) Tão logo descemos do avião, de imediato mesmo, sentimos que estávamos em um país tropical. Um sol esfuziante, um ar úmido e quente. E dentro do aeroporto abafado!
”. 

Agnia Bartô ficou hospedada, como todos os demais delegados, no hotel Glória, mas, como ela própria escreveu, quase não parou em seu quarto, tantas foram as atividades durante o evento. Dos contatos com os brasileiros, a poeta mencionou nominalmente Leni Dornelles, presidente da seção brasileira.

No dia em que foi fazer sua comunicação, Bartô conta que as amplas janelas do auditório davam para a rua, uma estrada duplicada com mão e contramão, o que fazia ecoar todo o barulho do trânsito e do tumulto da rua. “Parecia que eles buzinavam ali dentro”. Fecharam-se as janelas, mas os ventiladores trazidos não funcionaram. “Foi preciso abrir as janelas novamente”.

Agnia Bartô mencionou ainda uma conversa com um escritor de São Paulo que lhe presenteou uma obra sua e disse que queria ser editado na URSS, afirmando que pagaria pela edição. “Por muito tempo nós não conseguimos entender um ao outro”, ela relatou, explicando que a forma de edição diferia entre os dois países. 

A poeta registrou que ficou feliz pelo fato do mais importante veículo impresso do país, o Jornal da Brasil, “ter feito uma  exposição muito simpática à nossa comunicação, bem como da nossa experiência soviética”. 

Um dos mais belos momentos da visita se deu quando Bartô foi ao morro da Mangueira, episódio que a inspirou a escrever o poema que traduzimos abaixo:

Samba

dedicado ao jovem dançarino do clube Mangueira


Um menino magro

De camisa rota

Ele baila samba

Ao som de tambores.

De si mesmo alheio,

Senhor do feitio,

Por entre a camisa

Escurece o corpo,

muito quente o ar

Banhado a enxofre,

Nos montes: favelas

Em um cinza imenso,

Porém, baila, baila,

Ao som dos tambores,

Um menino magro,

De camisa rota,

Mesmo que nem sempre

Saciado sinta-se

O sambar sacia

No ferver do ritmo

E mesmo distraído

Os seus ombros bailam,

Pés descalços batem

Pelo chão da laje.

E em ritmo de samba

Vai um transeunte

E mesmo sem saber

Também vai bailando.


- Самба -


Худой мальчишка

В рубашке рваной,

Он пляшет самбу

Под барабаны,

Самозабвенно,

Со знаньем дела,

А сквозь рубашку

Темнеет тело.

Горячий воздух

Пропитан серой,

В горах — фавелы

Громадой серой,

Но пляшет, пляшет

Под барабаны

Худой мальчишка

В рубашке рваной.

Пусть не всегда он

Бывает сытым,

Но слышен самбы

Кипучий ритм,

И он беспечен,

И пляшут плечи,

Босые пятки

Стучат по плитам.

И в ритме самбы

Идет прохожий,

Не знает сам он,

Что пляшет тоже.


***

Agnia Bartô morreu em 1981. É traduzida pela primeira vez em nosso idioma. 

***

Artigo publicado no jornal A União, de João Pessoa, PB, na edição de 17 de fevereiro de 2024

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