NICOLAI GLASKOV /Николай Глазков (14)
Nikolai Ivanovich Glaskov nasceu em 1919, num vilarejo chamado Lyskovo, em Nizhny Novgorod, porém, desde muito cedo mudou-se para Moscou, onde seu pai Ivan Glaskov trabalhava como advogado e tradutor do alemão. Em 1938, no período conhecido como Grande Expurgo, Ivan foi preso e fuzilado. Supõe-se que, em consequência disso, Nikolai tenha sido expulso da Universidade Estatal Lomonosov. Há quem acredite que a razão tenha sido a publicação alternativa de almanaques nos quais divulgava as linhas da escola literária que fundou com o amigo Yulian Dolgin, o “nebyvalizm” - que poderia ser traduzido como “semprecedentismo”.
Glaskov considerava-se “neofuturista” e um continuador de Vielimir Khlébnikov. Por influência de um antigo futurista, Nikolai Asseiev, foi estudar no Instituto de Literatura Górki. Autor de uma poesia aforismática, parodística e irônica, Glaskov não conseguia ser publicado pelos meios oficiais. Nos anos 1940, passou ele mesmo a editar os seus próprios livros, aos quais chamou de “samizdat”, neologismo que funde algumas palavras cujo significado é: “editado por mim mesmo”.
A crítica literária sustenta que a poesia de Glaskov, por essência, é uma paródia à poesia oficial soviética. Nessa linha, vejamos a tradução que fiz de um dos poemas mais emblemáticos de Glaskov, uma paródia a partir do famoso poema de Edgar Allan Poe, "The Raven".
Corvo
Negro corvo, negro diabo,
Misticismo tu ministras
Voaste ao mármore alvo
Meia noite, hora sinistra.
Perguntei-lhe: se nos anos
Próximos serei capaz
De achar fortuna, mas quando?
Ele respondeu: - jamais!
Disse: em riqueza inventada
A horda dos dias vai
Vou ser por alguém amado?
Ele respondeu: - jamais!
Disse: “Que na vida íntima
Sempre eu seja infeliz. Mas,
Vão as nações comunistas
Se achar felizes?”. - “Jamais”.
Falei: instantes hostis
E azar eu tenho demais
Mas meus amigos, serão felizes?
Ele respondeu: jamais!
Não questões que era possível
Um “sim”e um “não” se dar nas
Respostas tive um terrível
e inconsolável JAMAIS!...
Perguntei: do Chile o dado
das cidades, quantas, quais
Ele respondeu: jamais!
e assim foi desmascarado
1938
Ворон
Черный ворон, черный дьявол,
Мистицизму научась.
Прилетел на белый мрамор
В час полночный, черный час.
Я спросил его: - Удастся
Мне в ближайшие года
Где-нибудь найти богатство?-
Он ответил: - Никогда!
Я сказал: - В богатстве мнимом
Сгинет лет моих орда,
Все же буду я любимым?-
Он ответил: - Никогда!
Я сказал: «Пусть в личной жизни
Неудачник я всегда.
Но народы в коммунизме
Сыщут счастье?» – «Никогда!»
Я сказал: - Невзгоды часты,
Неудачник я всегда.
Но друзья мои добьются счастья?-
Он ответил: - Никогда!
И на все мои вопросы,
Где возможны “нет” и “да”,
Отвечал вещатель грозный
Безутешным НИКОГДА!..
Я спросил: - Какие в Чили
Существуют города?-
Он ответил: - Никогда!-
И его разоблачили!
1938
Na antologia da poesia russa, “Estrofes de uma Era”, organizada em 1999, pelo poeta Ievtuchenko, há um alentado verbete dedicado a Glaskov. Nele, há a informação de que Glaskov para se vingar da poesia oficial passou a escrever poemas zombeteiramente ruins, nos quais rimava "socialismo" com "comunismo" com o fim de ser editado, algo que conseguiu. O poeta soube colocar a máscara de bobo para rir do rei, como se pode ver noutro de seus mais famosos poetas, que traduzimos:
Comentários
Postar um comentário