Igor Bolychiov/ Игорь Болычев



Igor Bolychiov nasceu em 1961 em Novosibirsk, capital da Sibéria. Formou-se no Instituto de Física e Tecnologia de Moscou, em 1984. Pós-graduou-se no Instituto de Literatura Maksim Górki, em 1996, onde três anos depois tornou-se doutor com tese defendida sobre a obra de Igor Chinnov, de cuja cátedra de literatura russa contemporânea passou a integrar o quadro docente. 

 Lançou: Conversas comigo (1990 e 2009), Torre de Babel (1991), além de ter sido o responsável pelos almanaques de 2011 e 2012, do laboratório de criação literária “Arca de cipreste”.  Bolychiov é também tradutor do inglês e do alemão. Já verteu para o russo obras de poetas como Robert Burns, Rudyard Kipling, Ezra Pound, William Yeats e Georg Heym. 

Os poemas que traduzi são de seu último livro. 


“Tornai-vos passantes” (1)

de dia

de noite

de dia

além da janela

está uivando o bonde

como bomba em filme de guerra

de dia

de noite

em maio

além da janela rangem um balanço. 


(1) Citação do Evangelho de Tomé no original. Aqui citamos o texto traduzido em português cujo tradutor não foi possível de ser identificado. 


«будьте прохожими»

день

ночь

день

за окном 

воет троллейбус

как бомба в военном кино

день

ночь

май

скрипят за окном качели


***

Não passo dum choupo em rios daqui

Inalterável com os anos.

Os versos de outros me avivam para que 

Na água haja outono boiando.


Não passo de um guri em curto agasalho

Que molhou suas botas marrons

Uso papel vermelho  e vou pregá-lo

Em meus desenhos de mil tons.


Não passo do rabisco de uma estrada

Feita por lápis marrom e ante

A mim, trafega nos borrões de cada

Rombo uma fila de tanques


Não passo de um lar meio torto rente

À mesma estrada bem do lado

Sobre mim sobe em cacho e torniquete

Um fumacê preto e pesado


Não passo dum tanquista: narigudo,

Barbudo, azul…  Que um elmo tem

Não passo da folha de um choupo murcho

No infantil álbum de alguém 


1989

***
Я всего лишь осина у русской реки,
неизменная год от году.
И во мне оживают чужие стихи,
чтоб осыпаться осенью в воду.

Я всего лишь ребенок в коротком пальто
и в коричневых мокрых ботинках.
Я беру красный лист, чтоб пристроить его
на своих рисовальных картинках.

Я всего лишь коричневым карандашом
заштрихованная дорога.
И по мне, дребезжа на ухабах штрихов,
едет танковая колонна.

Я всего лишь чуть-чуть перекошенный дом
на обочине этой дороги.
Надо мной, завитой аккуратным жгутом,
черный дым поднимается строгий.

Я всего лишь зеленый носатый танкист —
неубитый, небритый и в шлёме...
Я всего лишь засохший осиновый лист
в чьем-то детском далеком альбоме.

1986 г.


***

A existência humana em si só não basta

Não a basta à uma estrela haver atração

Pra que se aprendesse a caminhar nas águas

Um menino usando bata de algodão


Ele irá morrer de desprezo e agonia

Ele irá secar, passando o calendário,

À espera do amor e da sabedoria

Como a relva do campo que espera o orvalho. 


E aquelas palavras que os povos salvaram

E aquelas palavras por séculos eleitas

Como armas atômicas debaixo da água

No fundo da língua em silêncio se deitam


A existência humana em si passará

A atração irá alterar a estrela

Até quando o menino for se levantar

E seguir nas águas durante a procela.


Embaixo dos pés, qual cinzentas encostas

Uns submarinos vão sair do fundo

E à salva nuclear de uma nova “Aurora”

O Filho do Homem vai chegar ao mundo


E quando na lama universal o estouro

De tudo tombando da órbita em falso

O que vai ter ele?  Maldição e choro

E se Deus permite tudo isto e mais algo


***
Человеческой жизни не хватит,
Притяженья не хватит звезде,
Чтобы мальчик в пальтишке на вате
Научился ходить по воде.

Он умрет от тоски и презренья,
Он иссохнет, считая часы,
Ожидая любви и прозренья,
Как трава полевая — росы.

И слова, что хранили народы,
И слова, что хранили века,
Как подводные атомоходы,
Тихо лягут на дно языка.

Человеческой жизни не станет,
Притяженье изменит звезде
До поры, когда мальчик восстанет
И пойдет по бурлящей воде.

Из-под ног, словно серые горы,
Субмарины всплывут из глубин.
С залпом ядерным новой «Авроры»
В мир придет человеческий сын.

И когда во вселенскую слякоть
Ухнет все с ненадежных орбит —
Что он сможет? Проклясть да оплакать.
***
Publicado na edição de 25 de novembro de 2023

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