Nádia Delaland/Надя Делаланд
Conheci Nádia Delaland na 20a edição do Festival de Literatura Voloshin, ocorrido este ano em Kaliningrado. Autora de 14 livros, nos gêneros de prosa e poesia, premiada e finalista em uma dezena de prêmios e concursos literários. Foi traduzida para o armênio, alemão, espanhol, estoniano, sérvio e agora para o português.
Nos poemas que traduzi abaixo, temos o amor em chave original, experimentação rítmica e um novo viés para a temática religiosa.
***
Mítia? Aliócha? Serioja? Valério?
Dei um beijo nele por trás da varanda
o pai dele bombeiro enquanto que a mãe
seis e meia em ponto vinha pra buscá-lo
ele deu pra mim um besouro morto
o besouro era calmo no bolso com um pato
o besouro era no bolso com noz e arame
amarelo com o qual eu faria um anelzinho
não me levassem embora até o mar morto
mas em setembro houvesse me posto na escola
talvez nós pudéssemos agora estar juntos
Mítia? Aliócha? Serioja? Valério?
***
Митя? Алеша? Сережа? Валера?
я целовала его за верандой
папа его был пожарным а мама
ровно его забирала в шесть тридцать
он подарил мне жука уже мертвый
жук был спокоен в кармане с утенком
жук был в кармане с каштаном и желтой
проволокой чтобы сделать колечко
если б меня не забрали внезапно
***
boa noite meu benzinho
falo eu em sussurro
na escuridão
onde não há ninguém
e adormeço
feliz
***
спокойной ночи любимый
говорю я шепотом
в темноту
где никого нет
и засыпаю
счастливая
***
um escultor celeste selva em folhas cai
raposa incendiada degrau que ao céu vai
a voz é desgrenhada a despencar ao chão
sumiu pra sempre ao acaso da escuridão
nós cuidem do seu próprio esvaziamento eu
cuidaram do silêncio do seu próprio vós
até o momento estou com pés de mil cipós
ele mãofinamente cresço em galhos deu
de delirar o outono tornou-se um inverno tão
cortante em fio o frio na boca torta e tesa
quem é que aqui pegou puxou pela cabeça
mamãe és mãe sou mãe nós somos mamãe mã
vivíparo gatinho recém nascido faz-se
secreto pequenino que brotou das sombras
a mãe da flor escaldante quando o inverna tomba
por entre as pernas dele repousou a face
se for pra dar a luz por todo dia e não
parar te tornarás um pescoçudo túnel
Em buzinar tu gemes e do reino trevas súbito
o gelo estás sentindo engarrafado então
se for pra dar a luz por todo dia e noite
tu estás sentindo a luz e até a luz te extremas
assim exatamente vai tendo um fim a morte
aqui por entre as pernas
***
скульптор небесный листающий лес
лестница в небо и огненный лис
голос растрепанный катится вниз
в темном закате навеки исчез
мы сохраняйте свою пустоту
я тишину сохранили свою
вы до сих пор тонконого стою
он тонкоруко ветвями расту
грезила осенью стала зима
зоркий мороз зажимающий рот
кто там за голову тянет берет
мама ты мама я мама мы ма
живорожденный котенок щенок
тайный младенец растущий из тьмы
мамы цветок раскаленной зимы
я голова у него между ног
если рожать целый день напролет
станешь сквозной длинношеий тоннель
стонешь гудеть и из царства теней
чувствовать холод бутылочный лед
если рождаться весь день и всю ночь
к свету тянуться ты чувствовать свет
то непременно закончится смерть
здесь между ног
***
Senhor eu sou tua ovelha
animal
nem fria e nem quente
não me deixes
não parta
tenha calma
tenha calma com minha estupidez e preguiça
o meu “compra”
no chão do supermercado
o meu sem graça “dá”
fica aqui do meu lado
pra sempre pra sempre
não se vá de mim
por favor espera
pega-me pela mão
ou pelo toitiço
pelo cachecol pela gola
meto a mão na tomada
me dê umas palmadas que não sejam breves
e quando eu te vir saindo de uma luz bem clara
curvo-me a ti ao encontro de olhos apertados gargalhante
acarinho-te com a testa igual gato que diz olá olá
olá tu me dizes olá ovelhinha.
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