Igor Sievierianin / Игорь Северянин (15)
Igor Sievierianin. Poeta, tradutor e um dos primeiros russos a empregar a palavra “futurismo”. Nascido em 1887, na cidade de São Petersburgo sob o nome de batismo Igor Vasilievich Lotariov. Começou a escrever poemas com 8 anos de idade. Não chegou sequer a concluir os estudos fundamentais da época. A partir de 1904, começou a regularmente publicar em revistas e periódicos literários. Antes de se tornar um autor de reconhecimento nacional, chegou a publicar 35 brochuras autofinanciadas, das quais as 15 primeiras foram assinadas com seu nome de registro. Em 1907, graças ao contato estabelecido com o poeta Konstantin Fofanov (1862-1911) decidiu adotar o pseudônimo Igor-Sievierianin.
Sievierianin era um poeta ignorado pela crítica, mas tudo mudou com a entrada em cena do escritor Liev Tolstói. Em janeiro de 1910, como era de costume, Tolstói reuniu alguns de seus seguidores. Após jogarem carteado, se deram à leitura de “livros decatendistas”. Calhou de ser lida, justamente, uma brochura de Igor Severianin. Alguns poemas levaram Tolstoi ao riso, mas um deles despertou-lhe a fúria, em especial a seguinte estrofe do poema “Habanera II”: “No fluido da cortiça o saca-rolhas finque”, no qual há uma elegante alusão ao intercurso sexual. Nos jornais da época foi publicado com destaque o jorro apoplético do patriarca da literatura russa: “(...) mas que besteira! Que indecência! Que porcaria! E se atrevem a considerar este tipo de baixaria como poema! A que nível se rebaixou a poesia russa!”.
A respeito do episódio, Severianin escreveu que quando Liev Tolstoi explodiu “com uma corrente de indignação contra o obviamente irônico ‘Habanera’ (...) a imprensa toda se levantou em urros e vaias selvagens, o que me tornou imediatamente famoso em todo o país!.. A partir de então, todas as minhas brochuras passaram a ser comentadas por críticos de todos os matizes (...) as revistas passaram a publicar meus poemas de bom grado e os organizadores das noites literárias passaram a me convidar (...)”.
Ao que me consta, até então, Severianin não foi ainda apresentado aos leitores em língua portuguesa. Segue a tradução do poema, feita por mim, que trouxe cólera a Tolstoi e glória ao seu autor:
Habanera II
Enfie o saca-rolha ao mole da cortiça, e a olhada das mulheres vai se tornar fixa é, a olhada das mulheres vai se tornar fixa e à uma paixão ardente veredas se fiam. Na ânfora ponha um pouco de âmbar de moscato E fique contemplando as cores que há no ocaso... Vá colorir a mente nas cores do ocaso e aguardar, aguardar do amor um estrondaço. Perca seus pensamentos e pesque as mulheres.. Para a conta dos beijos, vá lá e os enumere, A todos estes beijos um final se insere e uma alegria vai surgir fora de série.
Na semana que vem, vamos falar sobre sua ligação com o futurismo e sua tensa relação com Maiakovski.
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Publicado na edição de 1 de outubro de 2022 do jornal A União
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