Elina Sukhova/ Элина Сухова
Dos poetas que já vi se apresentarem, a que mais me causou impressão foi Elina Sukhova. Aos 57 anos, doutora em história, é autora de quatro livros, publicada nas principais publicações literárias da Rússia.
Vi-a recitar suas “poesias infantis”, na XX edição do Festival Voloshin de Poesia, ocorrido setembro passado, em Kaliningrado. Estes poemas, dos quais traduzi 3, não são dirigidos ao público infantil, mas foram compostos a partir de suas reminiscências da época em que era criança, marcados profundamente pela perda do pai.
Pai cantava na plenária
Eu vi como ele cantava
Juntos num tremendo coro
A voz dele ressoava .
Cantava a erguer seu punho
Com fé santa e com renovo:
“A Internacional vai por pão
De ló na boca do povo! (1)”.
Eu pensei assim: que lindo.
Que assim seja pra quem ousa
Este alvo se vê bem claro
E pão de ló não é pouca coisa.
Poderíamos ter comido
Nós o pão, sem déficit, só
Mas vamos de peito aberto
Que todos tenham pão de ló!
Trabalhe o ano todo alegre
Pra que em todo cafundó
Possa existir uma fábrica
De produzir pão de ló
Pra que negro, hindu, chinês
Não importa o chão de onde veio
Com Internacional vai ter
Pão de ló com carro cheio!
Derramou-se o leite… E o pão
quem ousa é quem sempre o tira
Hoje sem canção, sem pai
E alvo se vê na mira
(1) No original, se altera a letra do hino da Internacional Socialista, num jogo de palavras,
“vai haver pryanik na boca do povo”. Optou-se por substituir o ‘pryanik’, que é um pão de gengibre doce por “pão de ló’, por ser também símbolo de fartura.
A casa que meu pai construiu
Moro num povoado
onde nasceu meu pai
numa casa
que construiu meu pai,
estou abrindo uma porta,
a mão na maçaneta forjada por meu pai
e eu vou por entre o bosque
plantado por meu pai,
a um cemitério
ver os pais do meu pai
e uma irmã
e ainda uma irmã
um primo
um primo
um primo
Lá há uma cerca em grade
Lá há uma inscriçãozinha
que é onde está escrito
como se
estivesse aqui o meu pai
Como se fosse possível
uma caixa de tábua conter
povoado, casa, selva?
Por entre o bosque, plantado por meu pai
e o povoado, onde viveu meu pai,
eu vou para casa
que construiu meu pai.
Ponho a mão na maçaneta da porta.
Aperto a mão.
Olá, papai!
***
Живу в деревне,
где родился папа,
в доме,
который построил папа,
открываю дверь,
ручку которой выковал папа,
иду через лес,
посаженный папой,
на кладбище -
навестить папиных родителей
и сестру,
и ещё сестру,
и двоюродного брата,
двоюродного брата,
двоюродного брата.
Там есть ограда,
там есть табличка,
там написано,
будто
здесь мой папа.
Разве можно вместить
в деревянный ящик
деревню, дом, лес?
Через лес, посаженный папой,
и деревню, где жил папа,
иду в дом,
который построил папа.
Берусь за дверную ручку.
Пожимаю руку.
Папа, привет!
***
passo largo, perna grande
uma exata marcha militar
anda rápido ao chão da nevasca
com sua farda azul tão brilhante
como se na parada...
E aqui como bate o granizo!
Papai de calção, o cabelo molhado.
Grita: peguem os pepinos, fechem o...
O bonde se aproxima
que três copeques se dê
gira a manivela o caixa...
Papai cadê?
Vês, lá na frente o agasalho...
Vejo. Está de polo, calça branca
O mar quebra num agito
Vás nadar?
Aqui faz frio...
Eu vou contigo
Com um grito, empurrando,
num rasante na onda estamos...
Porque tu me deixaste sozinha?
Eu perdi o fio.
Eu soltei a mão.
Eu não sei
te botar
num
caixão...
Это мой папа
Длинноногий и голенастый
Чётким военным шагом
Быстро идёт по насту.
В синем кителе ярком,
Будто бы на парад...
И тут как шарахнет град!
Папа в шортах, мокрая голова.
Кричит: огурцы побъёт, закрыва...
Подъезжает трамвай.
Передай три копейки,
Ручку кассы крути...
Папа где?
Видишь, вон пальто впереди...
Вижу. Тенниска, белые брюки,
Морской прибой.
Будешь купаться?
Холодно...
Я с тобой!
С криком, толкаясь,
С разлёту влетаем в волну...
Зачем ты оставил меня одну?
Я отпустила руку.
Я потеряла нить.
Я не умею
Тебя
Хоронить...
Comentários
Postar um comentário