Danila Davydov/ Данила Давыдов
Quarta passada, foram anunciados os nomes dos vencedores do Andrei Biéli de Literatura, a mais importante premiação a escritores experimentais na Rússia. O galardoado deste ano, na categoria poesia, foi Dalina Davydov por seu sétimo livro de poemas, Narrador não confiável (Nenadojnyy rasskazchik)
Doutor em literatura pela Universidade Samara, aos 46 anos, Dalina Davydov tem um trabalho primoroso dedicado ao estudo da poesia russa com ativa participação na imprensa. Manteve por anos um programa de rádio no qual falava sobre poetas esquecidos. Foi um dos editores da importante antologia sobre poesia russa do século XXI («Devyat' izmereniy»).
Dalina Davydov é traduzido pela primeira vez em português. Os poemas abaixo integram a coletânea premiada.
***
a ti nunca darão a chance de esquecer quem és
apontarão, talvez, marcas no rosto que tenhas,
na repreensão, no jeito de olhar, na vida em seu vai-e-vem
a ti nunca darão a chance de esquecer quem és
a ti nunca permitirão ir lá, onde permitem apenas os seus
mesmo que tu sirvas no arado por sete anos e deres
tanto faz a eles o mais importante é ver
como suspiras e te contorces, que tipo de psico és
a ti nunca permitirão ir lá, onde permitem apenas os seus
tu ficarás aqui quando eles já estarão por lá
tu bebes teu agdam (1), faz é tempo que eles estão em seus devidos lugares
a eles não se cobra defesa ou concessão, eles não
se escondem pelos cantos, pelo mato
tu ficarás aqui quando eles já estarão por lá
mas é melhor ser assim, ser assim como eu, pois eu a eles não vou me dar.
(1) vinho soviético.
***
тебе никогда не дадут возможности забыть, кто ты
укажут, возможно, на лица твоего черты
на выговор, на взгляды, на жизненные ходы
тебе никогда не дадут возможности забыть, кто ты
тебя никогда не пустят туда, куда пускают только своих
даже если ты пашешь за семерых и отчитываешься еще
за троих
всё равно им важнее смотреть на то как ты пыхтишь
и корячишься, какой ты псих
тебя никогда не пустят туда, куда пускают только своих
ты останешься тут когда они уже будут там
ты пей свой агдам, они уже давно по законным местам
им не требуется защиты и снисхождения, они не
прячутся за углом, по кустам
ты останешься тут когда они уже будут там
но лучше быть так, быть так как я, а я себя не отдам
fui um pequeno outubrista, fui um jovem pioneiro
mas olha ser da juventude socialista não deu tempo
vieram uns reptilianos tipo todos de branco
e a urss colapsaram -
isso eu escutei no trem suburbano de Hovrinskaya
um marmanjo sem idade mas de barba,
falando consigo mesmo, assim, o destino usou e abusou de mim
tudo ao redor foi destruído, não há como ir mais pra casa
***
был октябренком, был пионером,
а вот комсомольцем я не успел,
пришли рептилоиды типа все в белом
и развалили ссср —
это я услышал в электричке ховринской.
мужичок без возраста но с бородой,
говорил сам с собой, мол, судьба попользовалась,
все вокруг порушено, некуда домой
***
e não atrapalhar as já incompreensíveis línguas para nós
e não enganchar experiência, seja inventada,
seja de verdade, nos versos dos outros
porque será que apenas a versos? Em geral
o poder dos mortos, como sabe qualquer sociólogo
é algo único, que segura. O bom é que
este poder é praticamente perfeito,
visto que eles não irão te responder; não,
visto que estão ressacadas as bocas do estúpido intérprete
mas tu queres te aconselhar com eles
e em aconselhar eles são sempre ricos
excelente gosto têm os mortos, isso sem se falar no falecido nabokov
a vontade morta, isso sem falar no que disseram o falecido schopenhauer e nietzsche
o romance dos mortos, o autor dos mortos, a poesia dos mortos, falaram os mortos
e nós ficamos certo de que eles vão nos ouvir
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