Aleksandr Pelévin/ Александр Пелевин (12)
Foi na cantina do Instituto Pushkin, onde fiz o mestrado, que me encontrei com Dmítri Nikolaevich, meu professor de folclore eslavo e estudioso dos gritos de guerra das torcidas de futebol. Contei-lhe que estava traduzindo poesia russa contemporânea e lhe perguntei qual era o seu poeta jovem favorito. Após pensar um pouco, me disse: “Aleksandr Pelévin”. Perguntei se tinha algum parentesco com Victor Pelevin, prosador de grande renome, na Rússia. “Não, não tem”, me respondeu.
Nascido em 1988, na então União Soviética, Aleksandr Pelévin atua na área do jornalismo e também escreve prosa. Ano passado, foi vencedor do prêmio nacional Best Seller , com seu último romance. Para apresentá-lo ao público em língua portuguesa, resolvi traduzir um de seus poemas mais conhecidos: “Eles são quatro”.
Eles são quatro
Eles são quatro e fumam no vão do trem. O primeiro tem pouco mais de vinte
Ele solta uma baforada, dá uma tossida e diz o seguinte:
“Fui morto em quarenta e um, próximo ao Dnipro, perto de Kiev, na batalha
Olhem o buraco que ficou de lembrança aqui na farda.
Fui enterrado nas ruínas da casa onde estávamos, então, os três.
Um alemão, na entrada, jogou uma granada pra se certificar de vez”.
O segundo fala: “Comigo foi sem graça. Em sessenta e seis terminei me afogando"
Estávamos no campo, nadávamos num rio, sob a ponte, um calmo remanso
Não me dei bem saltando da cerca. Eu tinha vinte três.
Meu Deus do céu, olha pra mim. Olha pra mim, meu Deus”.
O terceiro sorriu. “Eu tinha cinquenta anos. Eu lembro bem demais.
Eu, como um morto normal, morri na cama, cinco anos atrás.
Naquele dia, me senti mal no trabalho. E ir pra casa foi difícil”.
O quarta se cala e pensa:
“Eu estou vivo”
Agosto de 2011
Edit (com ajuda precisosa e atenta da amiga Marinka Vlasova)
Четверо
В тамбуре курят четверо. Первому двадцать пять на вид.
Он выпускает струйку дыма, кашляет и говорит:
"Убили меня в сорок первом, в битве под Киевом, у Днепра,
Видишь, в моей гимнастерке осталась на память о том дыра.
Я похоронен в руинах дома, где мы засели тогда втроем.
Немец для верности кинул гранату в дверной проем."
Второй говорит: "У меня все скучно. Я утонул в шестьдесят шестом.
Были в деревне, купались в речке на тихой заводи под мостом.
Я неудачно нырнул с ограды. Мне было двадцать три.
Господи, посмотри на меня. Господи, посмотри."
А третий смеется: "Прекрасно помню. Мне было пятьдесят.
Я, как нормальный покойник, умер в постели пять лет назад.
В тот день на работе мне стало плохо. Я еле дошел домой."
Четвертый молчит и думает:
"Я живой."
Август 2011 г.
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Publicado na edição de 13 de agosto de 2022 do jornal A União
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