Aleksandr Blok/ Александр Блок



Não foram poucas as vezes que ouvi, em sala de aula, em rodas literárias, que Aleksandr Blok é o maior poeta da Era de Prata.  Do ponto de vista técnico, o poeta intensificou, com maestria, o uso do “dolnik”, uma deliberada utilização de pausas entre os pés acentuados. Para imitar o efeito, optamos na tradução abaixo por alternar versos com sílabas distintas.  

***
Num coral de igreja a moça foi cantando
Sobre quem cansou em estranha terra
Sobre os navios que ao mar deram comando
Sobre quem se esquece que alegre era

Na cúpula foi tanta a sua voz em voo
Sobre o ombro branco um raio abriu um halo
Das trevas saiu tudo pra ouvir e olhou
Como cantou em veste branca  um raio. 

Parecia a todos, virá a alegria 
Num rio calmo navios vão vir
E o povo cansado no estrangeiro iria
Vida luminosa achar pra si. 

A voz era doce e o raio uma nuança,
E apenas no alto, em portões reais,
Envolta em segredos, chorava a criança,
Sobre não chegar ninguém de trás. 

1905

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Certa vez, Maiakóvski pegou um guardanapo, riscou-o com um traço e disse:  “De dez poemas meus, cinco deles são ótimos, três medianos e dois ruins. De Blok, de dez poemas, oito são ruins e dois são ótimos, mas tão ótimos que, provavelmente, não me é possível escrever daquele jeito”. 

Abaixo minha tradução de um poema de Blok que é citado em “Algumas palavras a respeito da minha mulher”, do primeiro livro de Maiakóvski. 

No Campo de Culicovo (1)

Rio que rasga. Flui, com preguiça, entristecido,
Limpa as margens. No aceiro
Da estepe, ao escasso barro amarelo do abismo,
Ficam tristes os palheiros.

Oh, minha Russ! Minha mulher! Até vir a dor
É claro a nós o longo rumo!
O rumo nosso, em velha flecha tártara, foi
Em nosso peito um furo.

Rumo - em estepe, rumo - saudade da imensidão
Em tua saudade, oh, Russ!
E mesmo à névoa, à noite, no estrangeiro, eu não
Fico com medo nenhum.

Que anoiteça. Arranchamos. Acendemos com fogueiras
Da estepe a sua distância
Na fumaça da estepe brilhará o santo emblema
E o sabre em aço de Khan...

Batalha eterna! Pra nós só em sonho há descanso
Através do pó e do sangue...
Que a égua das estepes vá voando, voando
E os tapetes arranque...

E não tem fim! As léguas vão piscando, declives...
Não é pra ir adiante!
Estão vindo, estão vindo nuvens tão horríveis
Com um pôr do sol no sangue!

Um pôr do sol no sangue! Do peito o sangue flui!
Se chora ao peito, se chora...
Não estamos em paz! A égua da estepe conduz
Até nós um salto agora!

1908

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(1) Em 1380, foi travada no que hoje é a oblast de Tuva, a Batalha de Culicovo. Guerrearam uma coalizão de príncipes russos contra tártaros e mongóis da Horda de Ouro.
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Publicado na edição de 23 de março de 2024 do jornal A União

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