Depois da tempestade
O telhado secou em pouco tempo.
Cadê o sol?
Assou o temporal!
um vórtice em granizo pelo templo
bateu mesmo na cúpula - vitral.
Como se arrebatasse, agilmente,
uma estrela pontiaguda e quando
atirassem as glaciais sementes
buzinava-se o céu por muitos anos.
A aveia, tão desgrenhada e áspera,
o centeio cobriu o campo e o vale:
aqui as juntas se vão atravessadas,
joelheiras dobrando em cada caule!
Cristo,
da catedral, de forma dura
para Elias olhou: que, sem obstáculo
ousou, pondo granizo na moldura,
e assim penetrou teu tabernáculo!
Mas a mim - me perdoe - estou doente
Sou mentiroso e blasfêmias faço
De tua perna esmigalhada sente-se
maravilhas surgindo em cada passo.
***
Как быстро высыхают крыши.
Где буря?
Солнце припекло!
Градиной вихрь на церкви вышиб —
под самым куполом — стекло.
Как будто выхватил проворно
остроконечную звезду —
метавший ледяные зерна,
гудевший в небе на лету.
Овсы — лохматы и корявы,
а рожью крытые поля:
здесь пересечены суставы,
коленцы каждого стебля!
Христос!
Я знаю, ты из храма
сурово смотришь на Илью:
как смел пустить он градом в раму
и тронуть скинию твою!
Но мне — прости меня, я болен,
я богохульствую, я лгу —
твоя раздробленная голень
на каждом чудится шагу.
1913 г.
Tão logo aconteceu a revolução de Outubro, Narbut, que era membro do Partido Socialista Revolucionário, os “SRs”, uniu-se aos bolcheviques, vindo lutar pelo Exército Vermelho contra o Exército Branco. A experiência na guerra civil rendeu-lhe o poema que traduzimos abaixo:
Indo atrás da riqueza que é de ouro e é preta
vai o barão urubu em Donbass (1)
Camaradas!
com martelo e baioneta:
- Um passo! -
Camaradas!
Fomos tolos demais
ao crer que o predador da Crimeia (2) era só sombra
mas por trás de esfarrapadas penas
as suas garras não se notam!
E aqui!
ele se move, ele se estende...
por nossa alma, por nosso carvão...
bêbado, assassino, saqueador-
ele atira raios e trovão
Camaradas!
Será que nós vamos ficar na retaguarda
esperar tranquilos pela morte?
Pra que a revolução possa ser digna,
- por baioneta
por martelo
e por serrote!
***
За чёрным тянется, за золотом
Баронье вороньё - в Донбасс.
Товарищи!
Штыком и молотом
Заставим тучу каркнуть:
- Пас! -
Товарищи!
Мы слишком верили,
Что крымский хищник - только тень.
Но за отрёпанными перьями
Мы не заметили когтей!
И вот -
Он движется, он тянется
За нашим сердцем, за углём…
Убийца, мародёр и пьяница -
Он мечет молнии и гром.
Товарищи!
Ужель спокойно мы
Неволи будем ждать, в тылу?..
Чтоб революцьи быть достойными,
- За штык!
За молот!
За пилу!
1920
1920
***
(1) e (2) referência ao Barão Wrangel (1878-1928), comandante do Exército Branco.
***
Na guerra, Vladimir Narbut perdeu a mão esquerda. Sobre esta fatalidade, escreveu o poeta Nicolai Assiéiev:
pra que o sangue corresse e os versos não
de Vladimir Narbut deceparam a mão.
Quando soube do exílio de Mandelstam, disse Narbut à esposa do poeta, Nadiejda: “O governo não deve se defender? O que poderia ser diferente, tens que compreender”. Porém, a máquina repressora o devorou também. O escritor Varlam Chalamov escreveu que Narbut esteve no campo de reclusão em Kolimá e lá provavelmente morreu, em 1938. Até hoje sua sepultura não foi encontrada.
É traduzido pela primeira vez em português.
***
Publicado na edição de 13 de janeiro de 2024 do jornal A União
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