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Vladimir Narbut/ Владимир Нарбут



Vladimir Narbut nasceu no Oblast de Cherniguive, na Ucrânia, em 1888. Em 1906, mudou-se para a capital do império russo, onde passou a estudar na Universidade Estatal de São Petersburgo, mas não concluiu seus estudos. 

Estreou em livro em 1910. Entre os que o elogiaram estava Nicolai Gumiliov, principal figura da Guilda dos Poetas, que veio a ser frequentada por Narbut. Deste grupo surgiu o acmeísmo, escola à qual pertenceram Anna Akhmátova, Óssip Mandelstam e à qual integrou-se Narbut. 

Em 1912, o segundo livro de poemas de Narbut,  Aleluia,  foi confiscado e destruído pela censura imperial sob alegação de blasfêmia e pornografia. De seu período acmeísta, traduzimos o poema abaixo: 


Depois da tempestade


O telhado secou em pouco tempo. 

Cadê o sol?

Assou o temporal!

um vórtice em granizo pelo templo

bateu mesmo na cúpula - vitral.

Como se arrebatasse, agilmente,

uma estrela pontiaguda e quando

atirassem as glaciais sementes

buzinava-se o céu por muitos anos. 

A aveia, tão desgrenhada e áspera,

o centeio cobriu o campo e o vale:

aqui as juntas se vão atravessadas,

joelheiras dobrando em cada caule!

Cristo,

da catedral, de forma dura

para Elias olhou: que, sem obstáculo

ousou, pondo granizo na moldura,

e assim penetrou teu tabernáculo!

Mas a mim - me perdoe - estou doente

Sou mentiroso e blasfêmias faço

De tua perna esmigalhada sente-se

maravilhas surgindo em cada passo. 


***

Как быстро высыхают крыши.
Где буря?
Солнце припекло!
Градиной вихрь на церкви вышиб —
под самым куполом — стекло.
Как будто выхватил проворно
остроконечную звезду —
метавший ледяные зерна,
гудевший в небе на лету.
Овсы — лохматы и корявы,
а рожью крытые поля:
здесь пересечены суставы,
коленцы каждого стебля!
Христос!
Я знаю, ты из храма
сурово смотришь на Илью:
как смел пустить он градом в раму
и тронуть скинию твою!
Но мне — прости меня, я болен, 
я богохульствую, я лгу —
твоя раздробленная голень
на каждом чудится шагу.

1913 г.


Tão logo aconteceu a revolução de Outubro, Narbut, que era membro do Partido Socialista Revolucionário, os “SRs”, uniu-se aos bolcheviques, vindo lutar  pelo Exército Vermelho contra o Exército Branco. A experiência na guerra civil rendeu-lhe o poema que traduzimos abaixo:


Indo atrás da riqueza que é de ouro e é preta

vai o barão urubu em Donbass (1)

Camaradas!

com martelo e baioneta:

- Um passo! -

Camaradas!

Fomos tolos demais

ao crer que o predador da Crimeia (2) era só sombra

mas por trás de esfarrapadas penas

as suas garras não se notam!

E aqui!

ele se move, ele se estende...

por nossa alma, por nosso carvão...

bêbado, assassino, saqueador-

ele atira raios e trovão

Camaradas!

Será que nós vamos ficar na retaguarda

esperar tranquilos pela morte?

Pra que a revolução possa ser digna,

- por baioneta

por martelo

e por serrote!


***


За чёрным тянется, за золотом

Баронье вороньё - в Донбасс.

Товарищи!

Штыком и молотом

Заставим тучу каркнуть:

- Пас! -

Товарищи!

Мы слишком верили,

Что крымский хищник - только тень.

Но за отрёпанными перьями

Мы не заметили когтей!

И вот -

Он движется, он тянется

За нашим сердцем, за углём…

Убийца, мародёр и пьяница -

Он мечет молнии и гром.

Товарищи!

Ужель спокойно мы

Неволи будем ждать, в тылу?..

Чтоб революцьи быть достойными,

- За штык!

За молот!

За пилу!


1920


1920

***

(1) e (2) referência ao Barão Wrangel (1878-1928), comandante do Exército Branco.

*** 

Na guerra, Vladimir Narbut perdeu a mão esquerda. Sobre esta fatalidade, escreveu o poeta Nicolai Assiéiev:


pra que o sangue corresse e os versos não

de Vladimir Narbut deceparam a mão. 


Quando soube do exílio de Mandelstam, disse Narbut à esposa do poeta, Nadiejda: “O governo não deve se defender? O que poderia ser diferente, tens que compreender”.  Porém, a máquina repressora o devorou também. O escritor Varlam Chalamov escreveu que Narbut esteve no campo de reclusão em Kolimá e lá provavelmente morreu, em 1938.  Até hoje sua sepultura não foi encontrada.

É traduzido pela primeira vez em português.   


***

Publicado na edição de 13 de janeiro de 2024 do jornal A União

 

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