Gueórgui Ivanov/Георгий Иванов


 

Se você me perguntar qual um dos poetas russos mais respeitados da atualidade, eu não hesitaria em citar o nome de Gueórgui Ivanov. Nascido em 1894, no condado  de Telsiai, atualmente, Mazeikiai na Lituânia, em 1907 mudou-se para São Petersburgo, onde estudou na academia imperial de cadetes.

Inicialmente, fez parte dos egofuturistas, de Igor Sievieriânin, depois migrou, em 1911, para o acmeísmo, sob a liderança de Nicolai Gumiliov. Começou a publicar muito cedo, ao 20 anos já havia escrito seu segundo livro, onde escreveu:


Enrolaram-se as nuvens em fios

Num novelo que a bênção os fia

E atrás de uma ave em anil

Outra, rósea, voando se via.


Isto vai apagando o ar fundo...

Não te esqueças, criança, em o

Luminoso e ensolarado mundo

As asas, que se abrem, eu voo?


- Chame o amor pelo nome completo!

- Não consigo cumprir este escrete.

O nome do meu amor perpétuo

Sobre o chão do inverno derrete;


<1920>

***

Облако свернулось клубком,

Катится блаженный клубок,

И за голубым голубком

Розовый летит голубок.


Это угасает эфир…

Ты не позабудешь, дитя,

В солнечный, сияющий мир

Крылья, что простерты, летя?


— Именем любовь назови!

— Именем назвать не могу.

Имя моей вечной любви

Тает на февральском снегу.


***

Resenhando este livro, o poeta e crítico Vladislav Khodassiévitch:  “G. Ivanov sabe escrever poemas. Mas é pouco provável que se torne poeta. A menos que lhe aconteça uma grande tragédia em sua vida, uma boa sacudida, algo como uma grande e verdadeira amargura, infelicidade. Definitivamente, é somente isto que a ele se pode desejar"

Em 1922, Gueórgui Ivanov decide emigrar. Antes de partir, visitou o amigo Mandelstam. “Até a próxima, Óssip”, ao que o poeta retrucou: “Não é até a próxima, mas adeus se tu fores, é adeus”. Ivanov respondeu: “Logo tudo vai terminar, tudo muda e eu volto e nós vamos morar de novo em Petersburgo. Mandelstam inspirou tristemente: tu não voltarás nunca mais”. 

A amargura e a dor, desejados pelo também imigrante Khodassiévitch, vieram nos anos de exílio, onde Gueórgui Ivanov foi reconhecido por seus pares como seu maior poeta. Em  resposta ao poema Ótimo, de Maiakóvski, Ivanov escreveu: 


É ótimo que não haja tzar

É ótimo  não haver a Rússia

É ótimo que Deus não exista


Só auroras amarelas há,

Só estrelas congeladas surjam,

Só milhares de anos à vista.


É ótimo não ter mais ninguém

É ótimo  nada ter também

Ser tão negro e tão morto, porém 


Ser mais morto que isso não pode

e mais negro que isso não dá

que ninguém nunca mais nos acode

e que nem é preciso ajudar. 


1930

***

Хорошо, что нет Царя.

Хорошо, что нет России.

Хорошо, что Бога нет.


Только желтая заря,

Только звезды ледяные,

Только миллионы лет.


Хорошо — что никого,

Хорошо — что ничего,

Так черно и так мертво,


Что мертвее быть не может

И чернее не бывать,

Что никто нам не поможет

И не надо помогать.


1930 г.

***

A mesma paleta melancólica pode ser vista no poema abaixo:


As folhas caíam, caíam, caíam

E ninguém é capaz de parar.

Da flor podre, como da carniça,

É tão duro não se respirar. 


E isto trouxe um luminoso canto

Sobre as ondas da névoa do rio

E prometendo um eterno descanso

Um repouso perpétuo e horrível. 


<1955>


***

Листья падали, падали, падали,

И никто им не мог помешать.

От гниющих цветов, как от падали,

Тяжело становилось дышать.


И неслось светозарной пение

Над плескавшей в тумане рекой,

Обещая в блаженном успении

Отвратительный вечный покой.

***


Representante da “nota parisiense”, Gueórgui Ivanov morreu em 1958. Publicou 14 livros, além de poesia, destacaríamos A dissolução atômica (prosa, 1938) e Invernos de Petersburgo (memórias, 1928). 

As nossas traduções são as primeiras de Gueórgui Ivanov em língua portuguesa. 


***

Publicado na edição de 30 de dezembro de 2023 do jornal A União. 


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