Nicolai Assiéiev/ Николай Асеев (5)




Lendo a biografia de Varlam Chalamov dei com um episódio bastante curioso. Na efervescente Moscou dos anos 1920, respirando os ares da Revolução de Outubro, discutia-se de tudo. Naquele clima, os jovens, entre os quais Chalamov, começaram a especular o seguinte: e se o governo proibisse a poesia, no que iriam trabalhar os poetas? Por algum tempo, meio que na brincadeira, dedicaram-se os moços a encontrar emprego para os medalhões da poesia russa. Maiakovski, por exemplo, iria trabalhar na União da Juventude Comunista, no departamento de propaganda. Sem dificuldade, foi encontrado emprego para todos, menos um:  Nicolai Assiéiev (1889 -1963). “Se tirarem a poesia dele, Assiéiev morreria”, disseram. 

Em língua portuguesa, Assiéiev figura na Antologia da Poesia Soviética (1973), organizada e traduzida por Manuel Seabra, em Portugal, que verteu para a língua de Camões dois poemas: “Maykovsky começa” e “Romeu e Julieta”. Antes, no Brasil, Assiéiev foi traduzido por Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman e incluído na antologia Poesia Russa Moderna, lançada em 1968. Da nota biográfica inserida, destaco: “Já na década de 1910, seus poemas demonstram profunda influência das tendências de vanguarda, sobretudo de Khlébnikov. Mais tarde, o convívio com Maiakóvski haveria de reforçar essa inclinação. Nos últimos anos de vida, porém, utilizou tais recursos com certa parcimônia”. 

Quando me interesso por um poeta, minha primeira curiosidade é procurar quais são seus poemas mais significativos ou mais populares. E foi o que fiz com Assiéiev. No Youtube achei várias referências a “Simples estrofes”, de sua fase madura. O poema foi recitado na série de televisão  Tret'ya mirovaya ( 2013) numa magistral interpretação do grande ator e Vladimir Menshov,  diretor de Moscou não acredita em lágrimas, produção vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1981. 

E foi este o poema que traduzi. 

 

Simples estrofes

 

Eu não consigo mais viver sem ti!

Pra mim, sem ti, estar na chuva é seco,

Pra mim, sem ti, estar no calor esfria.

Pra mim Moscou, sem ti, é um bosque ermo.

 

Pra mim, sem ti, uma hora dura um ano,

E esmagado em frações o tempo quebra-se;

Pra mim até o firmamento azulado

Sem ti parece ter virado pedra.

 

Não quero mais saber de nada, nem

De rivais fortes, nem de amigos fracos;

Eu não quero esperar por nada além

Do que estes teus tão preciosos passos.

 

1960

 

 

 

Простые строки

 

Я не могу без тебя жить!

Мне и в дожди без тебя — сушь,

Мне и в жару без тебя — стыть.

Мне без тебя и Москва — глушь.

 

Мне без тебя каждый час — с год,

Если бы время мельчить, дробя;

Мне даже синий небесный свод

Кажется каменным без тебя.

 

Я ничего не хочу знать —

Слабость друзей, силу врагов;

Я ничего не хочу ждать,

Кроме твоих драгоценных шагов.

 

1960 г.

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