Nadiejda Téffi/Надежда Тэффи




Téffi, cujo nome real era Nadejda Aleksandrovna Lókhvitskaia, nasceu em São Petersburgo, no ano de 1872. Apesar de ter se notabilizado por sua produção em prosa, sobretudo pelos seus contos humorísticos, sua estreia se deu na poesia, em 1901, na revista “Siever”, poema que traduzimos abaixo:


***

Eu tive um sonho maravilhoso e insano

Como se eu acreditasse em ti e com bem muita

Teimosia e paixão ia a vida chamando-me

Pra ir à liberdade, ao trabalho e à luta. 


Acordei... Uma dúvida fui catando

pela tarde de outono na janela em círculos

E o som da chuva cai nos telhados cantando

Que a vida já passou e que sonhar é ridículo!..


1901

***


Мне снился сон безумный и прекрасный,

Как будто я поверила тебе,

И жизнь звала настойчиво и страстно

Меня к труду, к свободе и к борьбе.


Проснулась я… Сомненье навевая,

Осенний день глядел в мое окно,

И дождь шумел по крыше, напевая,

Что жизнь прошла и что мечтать смешно!..


1901 г. 


Aos 29 anos, Téffi havia se separado do marido, com quem deixou os três filhos que tinha, com quem nunca mais voltou a se encontrar. A respeito de seu debut, a autora relembrou-o no conto “Como eu me tornei escritora”: “Pegaram meu poema e enviaram-no a uma revista ilustrada, sem me falar qualquer palavra. E depois trouxeram-me um exemplar da revista, onde o poema havia sido publicado, o que me aborreceu muito. Eu não queria publicar, porque uma das minhas irmãs mais velhas, Mirra Lókhvitskaia de há muito e com sucesso publicava seus poemas. E me parecia meio que ridículo se todos nós nos metéssemos com literatura (...) Enfim, eu estava insatisfeita. Mas quando me mandaram o cachê da redação aquilo causou em mim impressão tão agradável (...)”


Nadiejda, meses após a sua primeira publicação, passou a adotar o sobrenome de Téffi, para que não fosse confundida com suas irmãs, além de Mirra, Varvara, sob o pseudônimo de Miurgit, era autora de peças de teatro. O primeiro livro “Sete fogos” («Семь огней») foi publicado em 1910, de onde traduzimos o poema abaixo:


***

Quando eu era uma tsarina

Num leito em luxo me deitava

Sacerdotisas, negras, virgens,

Em dupla, um leque tremulavam.


Chegaste tu, meu tzar e amante

Num arfar langue e escuro... logo

No meu peito uma vicejante

Rosa surgia dos teus ósculos...


O teu carinho não foi pego

Pelo olhar delas, mas fui ver

O arrepiar dos corpos negros,

Nas mãos o leque a remexer!...


Quando eu era uma tsarina

Eu te beijei também, tal feito

Foi pra deixar esmaecidas

Aquelas duas em pé ao leito


1910

***

Когда я была царица,

Я на пышном ложе лежала.

Две девы, две черные жрицы,

Колыхали над ним опахала.


Приходил ты, мой царь и любовник,

В истоме темных желаний…

На груди моей алый шиповник

Зацветал от твоих лобзаний…


Ни одна из жриц не смотрела

На ласки твои, но я знала,

Что трепещет их черное тело,

Что дрожат в руках опахала!..


Когда я была царица,

Я тебя целовала тоже,

Для того, чтоб бледнели лица

Тех двух, что стояли у ложа!


1910 г.


Em 1918, após a Revolução Russa, Nadejda Téffi emigrou. Morreu em Paris, no ano de 1952. Após sair da Rússia, publicou mais 25 livros, dos quais dois foram de coletâneas de poemas. O fato é que, apesar de sempre escrever poesia, Téffi não se esforçava para publicá-la. “Cheguei mesmo a ser desprezada por verdadeiros mestres-poetas. O que me aborreceu bastante”, disse.

Aos interessados em conhecer a produção literária de Téffi, ano passado foram lançados: Lugar nenhum e outros contos, (Kalinka), traduzido por Moissei e Daniela Mountain; e Contos, (Carambaia), com tradução de Raquel Toledo, Leticia Mei e Priscila Marques. 


***
Publicado na edição de 6 de janeiro de 2024 do jornal A União. 

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