Maksim Gorki/ Максим Горький (8)
Quando foi decretada a pandemia, tive a chance de me isolar numa área rural, nos arredores de Vologda, no norte da Rússia. Levei pouca coisa comigo. Não sabíamos, como ninguém àquela altura, o tempo que duraria aquela quarentena. Na minha mochila estava uma antologia na qual era possível acompanhar trezentos anos de poesia russa. Graças aquele exemplar, e ao tempo livre, dei início ao meu trabalho como tradutor.
Era uma edição bem cuidada, de capa dura, impressa ainda sob os auspícios do governo soviético. Praticamente, todos os grandes poetas da língua russa compareciam: Pushkin, Baratinski, Tyutchev, Mandelstam, Blok, Akhmatova, entre outros. Folheava a obra, detinha-me num ou noutro poema. Não sei por qual razão, senti vontade de traduzir, justamente, o poema “A Lenda de Marco” de Maksim Górki.
Confesso que não fazia a menor ideia de que o escritor Maksim Gorki (1868-1936), conhecido por suas vigorosas obras em prosa como A Mãe e Minhas universidades, também havia escrito poesia. Não muito tempo depois, devido à minha pesquisa, me deparei com uma resenha de Boris Schnaiderman a outra antologia, lançada em 1957, na qual a poesia de Gorki era duramente criticada.
Talvez o ritmo ou a fábula de exaltação a feitos extraordinários em contraposição a uma vida medíocre tenha despertado meu interesse em traduzir. Revisei uma tradução feita há mais de dois anos. E é este o poema da semana.
A lenda de Marco Era um bosque e num rio uma fada Com frequência nadava no rio Descuidou do perigo, uma vez, E na rede de pescas caiu. Pescadores atemorizavam-na, mas no meio o jovem Marco instala-se Conquistou ele a fada tão bela E começou com ardor a beijá-la. Mas a fada, igual ramos revoltos, Sob o abraço possante espremia-se E ao olhar mais nos olhos de Marco Em silêncio de algo ela ria. Todo dia ela Marco alisava, Mas assim que a noite ocorreu Uma fada feliz se perdia E a alma de Marco adoeceu... Ia Marco de noite e de dia Pelo bosque, ao Danúbio com um: "ei... Onde a fada está?". Em tudo busca. Mas as ondas sorriam: "não sei" Porém ele os gritou: "Vocês mentem!" Vocês mesmos brincavam com ela!" E jogou-se o tolo no Danúbio Pra poder encontrar a sua bela No Danúbio está nadando a fada Como antes de Marco nadou Quanto a Marco? Não há mais... Mas Marco Pelo menos canções inspirou. Mas vocês que na terra residem Como vermes cegos vêm e vão: Conto algum de vocês não se conta Nem se canta nenhuma canção 1903 Легенда о Марко В лесу над рекой жила фея, В реке она часто купалась; Но раз, позабыв осторожность, В рыбацкие сети попалась. Ее рыбаки испугались… Но был с ними юноша Марко; Схватил он красавицу-фею И стал целовать ее жарко. А фея, как гибкая ветка, В могучих руках извивалась, Да в Марковы очи глядела И тихо чему-то смеялась… Весь день она Марко ласкала, А как только ночь наступила — Пропала веселая фея, У Марко душа загрустила… И дни ходит Марко, и ночи В лесу над рекою Дунаем, Все ищет, все стонет: «Где фея?» Но волны смеются: «Не знаем». Но он закричал им: «Вы лжете! Вы сами играете с нею!» И бросился юноша глупый В Дунай, чтоб найти свою фею. Купается фея в Дунае, Как раньше до Марко купалась; А Марко уж нету… Но, все же, О Марко хоть песня осталась. А вы на земле проживете, Как черви слепые живут: Ни сказок про вас не расскажут, Ни песен про вас не споют! 1903 г.
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Publicado na edição de 18 de junho de 2022 do jornal A União.
Tradução revisada em 27 de fevereiro de 2024.
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