Iliá Ogandjanov/ Илья Оганджанов (11)



Tradutor, poeta e autor de ficção, Iliá Ogandjanov nasceu em 1971, em Moscou. Formou-se no Instituto de Literatura A.M. Gorki. É presença constante nas principais revistas literárias de todo o país. Como prosador, é autor do experimental romance em contos, composto como mosaico de narrativas, que eu traduziria como: Os nomes do sujeito. Na área da tradução, Oganjanov verteu para o russo poemas de Robert Frost e, mais recentemente, de Walt Whitman. 

Sua poesia, entretanto, é identificada com o apuro e  manejo das formas fixas, mas isto não limitou Oganjanov a experimentar outras linhas estilísticas a exemplo  do verso livre, como se pode ver em mais recente trabalho, obra que poderia ser traduzida como Vereda das nuvens, um longo poema disposto sequencialmente, como uma sinfonia, com seções numeradas em algarismos romanos. Oganjanov é um poeta de apuradíssimo senso musical. “Experimente ler seus poemas em voz alta, mas sem pressa: tudo soa muito fino e rico”, opina o editor-geral de poesia da revista Novy Mir, Pavel Kryuchkov. 

Ao traduzir o poema de abertura de Vereda das nuvens, reproduzido abaixo,  tivemos em mente o ritmo e a precisa escolha dos vocábulos presentes no texto original. 


vento chuva folhas que caem

as cordas e os sopros

afinador de salgueirinho-roxo

pego como violino o galho do bordo

e no sombrio farfalhar cintila a estrela

e viceja da música a errante vereda

estou nela sozinho

sem compasso e  mapa 


ветер дождь листопад

духовые и струнные

настройщик плакун-травы

беру как скрипку ветку клёна

и в тёмном шелесте мерцает звезда

и вьётся музыки бесцельная тропа

и я на ней один

без компаса и карты


Ao contrário da poesia em língua portuguesa, que é silábica, o sistema de poesia da língua russa é baseado nos pés, ou seja, na  distribuição da acentuação silábica. Na tradução abaixo, um exemplo ilustrativo  competência de Ilya Oganjanov com os metros tradicionais, optamos pelo uso do verso octossílabo, com marcação na quarta e na oitava sílabas, por ser a forma que melhor se aproxima do ritmo original


Corrida insone de automóveis.

Jovem maio. A água em tromba.

Por que no mundo nós estamos?

Não, não,  eu peço, não responda. 


E jorra a rua  tão corrida

por estirados céus e enquanto

a tromba d’água profetiza

e a trovoada vai pregando

 

Бессонный бег автомобилей.

Дремучий ливень. Юный май.

Зачем, зачем мы в этом мире?

Нет-нет, прошу, не отвечай.


И мчится улица бурливо

В распахнутые небеса,

Пока пророчествует ливень

И проповедует гроза.


No que tange às influências, vale a pena dar mais a palavra ao crítico Pavel Kryuchkov. “Com relação às suas referências poéticas, Ogandjanov (...) podemos e devemos citar (Afanasi) Fet, George Ivanov, Blok (...) e Arseni Tarkovski”. 

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Publicado na edição de 22 de agosto de 2023 no jornal A União

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