CONSTANTIN SÍMONOV/ КОНСТАНТИН СИМОНОВ

Espere por mim

Espere por mim que eu irei voltar,

Ainda que demore,  espere. 

Espere quando o triste e amarelado ar

Cair por chuvas em série

Espere mesmo que a neve com vento dispare

Espere quando o sol desponte

Espere quando os outros não mais esperarem

Pelo esquecido ontem. 

Espere quando dos mais distantes lugares

Não vier carta à sua terra

Espere quando todos já se cansarem:

Os que estão juntos e esperam. 


Espere por mim que eu irei voltar,

Não deseje mais o bem,

A quem fica sempre a repetir que já 

É hora de ir além.

Deixe, então,  que a mãe e o filho creiam

Que eu não exista mais

E os meus amigos venham ter a ideia

De brindar: descanse em paz

Com um vinho amargo sentados ao redor

Duma fogueira a arder...

Espere. Ao lado deles fique junta, só

Não se apresse em beber. 


Espere por mim que eu irei voltar,

Não se atenha à morte.

Quem não me esperou, que vá

Dizer: boa sorte.

Os sem crença jamais entendem

O que a espera vem a ser.

E como no meio de um grande incêndio

Eu fui salvo por você.

Como eu sobrevivi somente será

sabido por nós dois. 

É que apenas você foi capaz de esperar 

como ninguém  foi

1941


Жди меня, и я вернусь.

Только очень жди,

Жди, когда наводят грусть

Желтые дожди,

Жди, когда снега метут,

Жди, когда жара,

Жди, когда других не ждут,

Позабыв вчера.

Жди, когда из дальних мест

Писем не придет,

Жди, когда уж надоест

Всем, кто вместе ждет.


Жди меня, и я вернусь,

Не желай добра

Всем, кто знает наизусть,

Что забыть пора.

Пусть поверят сын и мать

В то, что нет меня,

Пусть друзья устанут ждать,

Сядут у огня,

Выпьют горькое вино

На помин души…

Жди. И с ними заодно

Выпить не спеши.


Жди меня, и я вернусь,

Всем смертям назло.

Кто не ждал меня, тот пусть

Скажет: — Повезло.

Не понять, не ждавшим им,

Как среди огня

Ожиданием своим

Ты спасла меня.

Как я выжил, будем знать

Только мы с тобой, —

Просто ты умела ждать,

Как никто другой.

1941 г.



***

O poema que traduzi acima é seguramente um dos mais importantes e mais conhecidos da poesia russa no século XX. Foi escrito por Constantin Símonov (1915- 1979), em 1941, quando teve início a Grande Guerra Patriótica. 

Símonov, que serviu na guerra na qualidade de correspondente, escreveu este poema para a atriz Valentina Serova (1917-1975), com quem veio a se casar dois anos. Inicialmente, Símonov não tinha intenções de publicar, mas leu-o a alguns amigos e só mudou de ideia em 1942. Até ser publicado, pelo Pravda, o texto de Símonov foi recusado por dois jornais pelo fato de “Espere por mim” ser um poema de forte conotação ao amor pessoal, algo que contrariava as diretrizes estéticas da época.

Um poema tornou-se uma espécie de fenômeno entre os soldados que viam no poema uma forma de oração, muitos dos quais punham o recorte de jornal com o texto no bolso da farda. Uma versão mutilada de “Espere por mim” circulou em jornais brasileiros a partir de 1945. O português Manuel de Seabra traduziu este poema em sua Antologia da Poesia Soviética (1973). 


Espera por mim, que eu voltarei,

Mas tens de esperar muito

Espera quando a chuva amarela

Tristeza trouxer,

Espera quando a neve vier,

Espera quando fizer calor,

Espera quando os outros não esperarem,

Esquecidos do passado.

Espera, quando dos países distantes

Cartas não chegarem,

Espera, quando até se cansarem

Aqueles que juntos esperam.


Espera por mim, que eu voltarei,

Não perdoes àqueles

Que encontram palavras para dizer

Que é tempo de esquecer.

E se crêem, filho e mãe,

Que já não vivo,

Se os meus amigos, cansados de esperar,

Se sentam à lareira

E bebem vinho amargo

Para me recordarem…

Espera. E com eles

Não te apresses a beber.


Espera por mim, que eu voltarei

A despeito da morte.

Quem não me esperou,

Que diga: ‘Teve sorte!’

Não compreendem os que não esperavam

Como no meio do fogo

A tua espera

Me salvou.

Como sobrevivi, saberemos

Só tu e eu, -

É porque me soubeste esperar

Como ninguém mais.



“Espere por mim” se transformou em filme, em 1943, com roteiro do próprio Símonov e atuação de sua mulher Valentina Serova. O poema virou ópera cujo ápice foi a musicalização de “Espere por mim”, que acabou se tornando uma canção autônoma. Recentemente, esta música, interpretada em uma espécie de flashmob, foi veiculada num comercial de uma rede de supermercados russos. 

 Desde os anos 1990, há um programa cujo nome é “Espere por mim” que ajuda pessoas a encontrarem entes queridos. 




***

Publicado na edição de 10 de fevereiro de 2024 no jornal A União. 

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