Boris Rýji/ Борис Рыжий (3)
Fosse eu alguém mais atento às datas, teria escrito sábado passado sobre o poeta Boris Rýji (1974-2001). É que, há exatos 21 anos, o mais promissor poeta russo de sua geração, havia voltado à casa dos seus pais no centro de Ecaterimburgo, onde escreveu um bilhete dizendo: “Amo todos vocês. Sem brincadeira”.
Morto aos 26 anos, com a mesma idade que Mikhail Lermontov, Boris Rýji suicidou-se quando o sucesso começava a lhe bater à porta: recebera o prêmio nacional Antibooker, havia publicado por uma editora em Moscou. Seus poemas, de linguagem simples e com forte pendor narrativo, são uma espécie de polaroides a retratar os destroços da queda do antigo império soviético. A vida do poeta foi contada em um documentário dirigido pela cineasta russa-holandesa Aliona van der Horst. O filme Boris Ryzhy (2009), com legendas em inglês, está disponível no Youtube no canal “millennium_breaker”.
Se os poetas românticos refugiavam-se no passado, no mundo ideal, por não aceitarem as transformações que desmantelaram o mundo em que viviam, é possível ver na poesia de Boris Rýji alguns traços desta escola, por exemplo, quando se chora a perda de seus amigos, que morreram ao entrar para o mundo do crime e tombarem como “os primeiros soldados da Perestroika”. No poema “Lacuna”, que traduzimos, é verificável uma certa aura romântica a perpassar o idílio amoroso.
Lacuna
Ah, Natasha, o meu anjo e alma,
és minha, esplêndida Nastasha,
no que tu pensas, sem calma
encontrar-se com o amante, tu achas
que o nosso flerte vai vingar?
Ah, Natasha, deixa pra lá.
Vá pra ele, tudo nivela-se,
o esportista ou o engenheiro,
eu apenas olho da janela,
como vais - voas - nos canteiros
num bonde rosa tu entras, mas
não se esqueça de mim mais.
Adoecerei, morrerei e tu
ao encontrar meu túmulo
ficarás, a dizer ao vento, no
choro - querido! - o seio aos pulos
- ele pra sempre se foi! -
Ah, Natasha, ainda não dói
Não morri, é brincadeira
Esta distância é longa prosa
Da última vez tua bochecha
apertou o ombro - estás chorosa?
não - porém temo, não escondo
o meu sorriso hediondo.
1997
Разрыв
Наташа, ангел мой, душа,
моя, прелестница Наташа,
о чем ты думаешь, спеша
к любовнику, — о том, что наше
знакомство затянулось, да?
Наташа, это не беда:
ступай к нему, не все ль равно,
к спортсмену или инженеру,
я только погляжу в окно,
как ты идешь — летишь — по скверу,
заходишь в розовый трамвай.
Но и меня не забывай:
я заболею и умру,
и ты найдешь мою могилу,
и будешь, стоя на ветру,
рыдать и всхлипывать: мой милый,
от нас ушел ты навсегда!
Наташа, это не беда —
еще не умер я, шучу.
В разлуке слишком много прозы.
Последний раз прижмись к плечу
щекой, чтоб не увидеть — слезы?
нет, — но боюсь, не утаю
улыбку хамскую мою.
1997 г.
***
Publicado na edição de 14 de maio de 2022 do jornal A União.
Tradução revisada em 22 de fevereiro de 2024.
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